Perguntas Frequentes




PERGUNTAS FREQUENTES  

Esta seção contém vários links - as palavras destacadas em negrito - para artigos com explicações mais detalhadas de cada argumento exposto. 

    1. O que é o veganismo?

O veganismo é, basicamente, um princípio moral específico que pode ser resumido na ideia de não utilizar os outros animais - os animais não humanos. Não utilizá-los para nenhum propósito e de nenhuma forma. 

Na prática, veganismo significa deixar de participar na exploração animal. Por exemplo: não consumir produtos de origem animal, seja na alimentação, no vestuário, na higiene, no lazer ou no entretenimento; assim como não participar em nenhuma atividade que implique utilizar os outros animais. 

O veganismo aborda exclusivamente a relação moral entre os humanos e os animais não humanos, do mesmo modo que o movimento feminista refere-se estritamente à relação moral entre os homens e as mulheres. Mas ambos os princípios morais partem da premissa moral de que todas as pessoas, sem distinção, devem ser respeitadas como fins em si mesmas, e não como instrumentos para satisfazer, de forma compulsória, nossas necessidades e desejos.

    2. Por que devemos ser veganos? 

Por ética.

Especificamente por três razões muito básicas, embasadas pela lógica e pelos fatos: 

Primeiro, porque somos indivíduos capazes de raciocinar, de assumir a responsabilidade por nossa conduta, e de perceber que nossos atos têm consequências e afetam outros indivíduos. Somos seres racionais, cujo conhecimento e conduta se fundamentam na lógica. 

Segundo porque, de acordo com a lógica - com o princípio de identidade - não devemos fazer aos outros o que não gostaríamos que fizessem conosco. Se não queremos que alguém nos use como comida, então não devemos fazer o mesmo com outros indivíduos que também não querem ser dominados, mortos ou machucados. Todos os seres dotados de senciência são conscientes e têm interesses básicos relativos à própria sobrevivência e bem-estar. 

Assim se fundamenta o princípio ético de igualdade - ou de igual consideração moral. É por isso que excluir outros indivíduos da consideração moral apenas porque pertencem à uma espécie diferente da nossa é o mesmo que discriminá-los por serem de outro sexo ou de outra raça. É uma discriminação chamada especismo

Terceiro, porque todos os seres sencientes possuem um valor inerente. Ao contrário dos seres que não sentem - animais sem sistema nervoso, vegetais, minerais - todos os seres sencientes podem experimentar sensações e se preocupam com sua própria preservação e bem-estar. E todos os seres sencientes são seres conscientes, ao menos em um nível básico.

    3. Mas comer animais não seria uma escolha “pessoal” ou particular? Cada um não deveria comer e fazer o que quiser? 

Quando se trata de respeitar os direitos básicos dos seres humanos, não justificamos sua violação alegando ser uma “questão pessoal (particular)”. 

A ética não se baseia em meros caprichos ou desejos pessoais, mas sim em normas objetivas fundamentadas na razão. Por que seria diferente no caso de outros animais? Se raciocinarmos, veremos que os mesmos argumentos que justificam o respeito aos seres humanos valem igualmente para os animais não humanos.

Devemos respeitar os seres humanos porque são seres sencientes que possuem interesses. Os seres humanos desejam preservar sua vida, desfrutar do bem-estar, evitar a dor e o sofrimento, e não ficar à mercê da vontade arbitrária de outros. Os demais animais têm esses mesmos interesses básicos. Logo, ambos possuem um valor intrínseco – valorizam por si mesmos a própria vida, bem-estar e liberdade, ainda que ninguém mais o faça - e o princípio da igualdade exige que consideremos e respeitemos os interesses deles da mesma forma que fazemos com os nossos. 

Uma escolha pessoal é, por exemplo, escolher livremente a cor das paredes da nossa casa. Isso, a princípio, não fere os direitos de ninguém. Mas se os nossos atos afetam diretamente os interesses básicos de outros indivíduos, então trata-se de uma questão moral, e não particular. 

    4. O veganismo pode ser realmente colocado em prática? 

Claro que o veganismo pode ser colocado em prática. Milhões de seres humanos, em vários lugares do mundo, são veganos. 

Em primeiro lugar, não temos nenhuma necessidade nutricional de comer outros animais, nem nada que deles provenha. Uma alimentação vegana balanceada nos fornece tudo o que precisamos. Logo, podemos satisfazer todas as nossas necessidades básicas sem usar os outros animais. É fato que o veganismo é um princípio viável na prática. 

A nível coletivo e ambiental, uma sociedade humana que adote o veganismo também é viável. Atualmente, ao menos um terço de todas as terras cultiváveis do planeta são utilizadas para produções agrícolas destinadas a alimentar os animais escravizados. Além disso, a pecuária consome entre cinco a dez vezes mais água que o cultivo de vegetais. 

Em contrapartida, uma sociedade vegana não teria que alimentar bilhões de animais escravizados. Portanto, uma sociedade vegana necessitaria de muito menos terreno cultivável do que a atual sociedade escravocrata para poder alimentar o mesmo número de pessoas. 

O veganismo aplicado à produção de alimentos requer menos terra, menos água e menos recursos em geral para produzir uma quantidade maior de comida quando comparado à exploração animal.

    5. Mas não seria uma solução cuidar melhor dos animais não humanos que utilizamos?

Não, não seria. A questão não é como fazemos; o problema moral está justamente no fato de utilizá-los em benefício próprio.

O problema latente está em tratar os outros animais como nossa propriedade. Reduzimos os animais não humanos à categoria de escravos.

Se a escravidão de seres humanos é imoral, visto que coisifica os indivíduos como meros objetos, então é igualmente injusta quando praticada com os outros animais. 

Os demais animais não podem nos dar seu consentimento para serem usados, portanto, ao fazê-lo, não os respeitamos como indivíduos com vontade e interesses próprios; por certo, tratamo-los como objetos, como meros recursos. Isso é, em suma, a exploração animal.

Não temos nenhuma razão que justifique moralmente nosso uso de outros animais. Portanto, seja qual for a maneira empregada, não anulamos a injustiça, que consiste justamente em usá-los para nossos próprios fins. 

Quando nos referimos à questão de respeitar moralmente os seres humanos, entendemos que a opção aceitável nunca é assassiná-los ou violentá-los com menos crueldade. Não é admissível que os abusadores tratem “melhor” as vítimas. A única opção aceitável é que eles não as abusem mais.

A solução não é “cuidar melhor” dos animais que escravizamos. A única solução ética é não escravizar ninguém. 

    6. Animais comem outros animais, por que é errado fazermos o mesmo se também somos animais? 

O fato de sermos animais, ou de que outros animais comem animais, não justifica imitarmos o comportamento neles observado. 

É fato que alguns humanos assassinam e violentam outros humanos. Isso significa que é correto fazermos o mesmo, já que também somos humanos? Claro que não. Esse não é um argumento logicamente válido. 

Tentar justificar determinado tipo de ação ou comportamento, nosso ou de outras pessoas responsáveis por seus atos, alegando simplesmente que é “natural”, é um argumento que, se fosse racionalmente válido, serviria para justificar moralmente qualquer coisa, na prática.

Afirmar que o fato de termos caninos, ou de sermos onívoros, não acarreta um problema ético em comer animais, é o equivalente a dizer que se possuímos um pênis, não é moralmente errado violentar mulheres, visto que o sexo também é algo “natural”. 

Se entendemos a ética como uma forma de guiar racionalmente nossa conduta, de acordo com uma série de normas morais, então não é lógico apelar a comportamentos que ocorrem na natureza para justificar nossas práticas. 

    7. Mas e as plantas, as bactérias e os vírus?

Nem os vírus, nem as bactérias e nem as plantas podem sentir. Não apresentam sistema nervoso, que é o órgão que permite a senciência. As plantas são seres vivos que podem perceber informações do meio ambiente - assim como as máquinas equipadas com mecanismos sensoriais - mas não são capazes de processá-las em forma de sensação, a não ser que tenham um sistema nervoso. Só os animais possuem sistema nervoso, enquanto o resto dos seres vivos não dispõe de qualquer outro sistema ou órgão equivalente. 

    8. Mas e questões como poluição, meio ambiente, pobreza, guerras e outros problemas? 

Não há dúvidas de que há outros problemas de importante relevância moral além da exploração que infligimos aos demais animais. 

Mas o fato de que tais problemas existam não justifica, de maneira alguma, ignorar ou participar da exploração animal, do mesmo modo que o fato de haver outros problemas morais no mundo não justificaria nossa participação na escravidão humana. 

    9. Qual o problema em consumir ovos, leites e mel se, supostamente, os animais que os provêm não sofrem nem são mortos para isso? 

Na verdade, a ideia de que o consumo de ovos, laticínios, lã e mel não causa sofrimento e morte é uma crença equivocada, oriunda da habitual propaganda enganosa difundida pela indústria de exploração animal. 

A realidade é que infligimos sofrimento aos animais escravizados por seu leite ou seus ovos de várias maneiras: ao confiná-los em espaços limitados, ao assustá-los ou espancá-los para que nos obedeçam, e ao roubarmos o que seus corpos produzem contra sua vontade. 

Além disso, quando esses animais não são mais rentáveis ao explorador, quando já não produzem mais ovos, leite, lã, seda ou mel, são mortos. Em outras palavras: assassinados. 

Fora o sofrimento e morte que causamos aos outros animais que exploramos, o mero fato de enxergá-los como máquinas de produção, que existem para satisfazer às nossas necessidades, já é uma forma de objetificá-los e de negar-lhes sua condição de indivíduos com vontade e interesses próprios. Isso é o que acontece quando tiramos seus ovos, seu leite ou seu mel, mesmo se existisse a possibilidade de, supostamente, não os machucar ao fazê-lo. 

Os outros animais não nos deram seu consentimento para serem usados para propósito algum; portanto, o mero fato de fazê-lo viola o respeito básico que todos os animais merecem, simplesmente por serem sencientes. 

    10. Mas o consumo de produtos sintéticos ou de origem vegetal não causa danos indiretos ou polui o meio ambiente?

Em primeiro lugar, precisamos deixar claro que é injusto usar os demais animais para nossos fins, porque ao fazê-lo estamos violando seu valor inerente como indivíduos e o princípio ético de igualdade, não sendo, portanto, moralmente aceitável utilizá-los como alimento, vestimenta ou qualquer outro propósito que nos beneficie. 

Devemos respeitar o meio ambiente por respeito aos interesses dos animais que ali habitam; o que não faz sentido é se preocupar se causamos danos indiretos à natureza ao consumir produtos de origem vegetal ou sintéticos se, ao mesmo tempo, estamos financiando a escravidão e o assassinato de outros animais para comer seus cadáveres e secreções, e vestir os pedaços de seus corpos. 

Vamos pensar: utilizar os seres humanos sem seu consentimento, ao custo de tirar-lhes a vida e a liberdade, para produzir comida ou roupas com partes de seus corpos, poderia poluir menos do que utilizar material sintético; mas isso não justifica, moralmente, utilizá-los como meros recursos. 

Da mesma forma, isso também não é justificável no caso de animais não humanos. O critério de consideração moral é o mesmo para todos, dado que todos são seres igualmente sencientes - têm vontade e interesses próprios. Todos os animais sencientes possuem um valor inerente. Isso significa que nem a vontade e nem os interesses deles devem ser sacrificados para nosso benefício. 

Usar seres humanos como escravos talvez fosse mais respeitoso com o meio ambiente do que usar energia elétrica ou nuclear. Mas isso não justifica a escravidão nem de seres humanos, nem de outros animais. 

Imaginemos que alguém diga: “Como não podemos evitar causar danos, ainda que seja indireta ou acidentalmente, então não há problema moral em praticar o canibalismo, já que não podemos viver sem causar algum tipo de dano aos outros.” 

Todo ano, milhares de seres humanos morrem como consequência direta da poluição. Todos participamos da poluição. Mas isso significa que não devemos condenar o assassinato, a escravidão e a violação de seres humanos? Claro que não. Então por que seria diferente no caso dos não humanos? Ainda que causemos danos indiretos aos outros animais por conta da poluição, isso não é uma desculpa para continuar a escravizá-los, da mesma forma que não justifica a exploração dos seres humanos. 

Em todo caso, considerando que pelo menos um terço das terras usadas para cultivo destinam-se a alimentar os animais que utilizamos como comida (agropecuária), apenas ao praticar o veganismo já reduziríamos consideravelmente o número de vítimas indiretas da agricultura, visto que muito menos terrenos seriam invadidos para cultivo. 

Sem contar que é muito razoável supor que em uma sociedade que enxergasse os demais animais como pessoas - uma sociedade vegana - por certo nos esforçaríamos para que os métodos de cultivo empregados fossem mais respeitosos em relação aos interesses dos outros animais.

Se queremos evitar todo dano e sofrimento desnecessário que causamos aos demais animais, a primeira e mais importante decisão que devemos tomar é a de nos tornar veganos e divulgar o veganismo. 

    11. O que você faria se estivesse em uma ilha deserta e a única maneira de sobreviver fosse matando outro animal? 

Antes de responder, gostaria de fazer uma pergunta: o que faríamos se vivêssemos em um mundo no qual tivéssemos acesso a todo tipo de alimentos vegetais, que satisfizessem todas as nossas necessidades nutricionais; e, além disso, soubéssemos que os outros animais são indivíduos que sentem, sofrem e têm interesse em viver, sem sofrimento? Continuaríamos a contribuir para sua exploração, com toda a dor e sofrimento que isso acarreta? 

A diferença entre ambos os casos é que é extremamente improvável que a hipótese da ilha deserta venha a acontecer, enquanto a segunda não é uma mera possibilidade, mas sim uma realidade agora. Podemos viver sem utilizar os outros animais como comida ou vestimenta. Podemos viver sem escravizá-los nem machucá-los. Então, em sua opinião, qual das duas perguntas vale a pena ser feita?

Em todo caso, ainda que fosse uma necessidade utilizar outros animais como comida, tampouco seria justo fazê-lo. Da mesma forma que também não é justo matar um indivíduo inocente para retirar seus órgãos, mesmo que isso fosse necessário para viver e não tivéssemos outra opção disponível. Se os demais animais não têm culpa de nossas vicissitudes e problemas, não é justo que paguem por elas. 

    12. E em relação aos medicamentos? 

A questão dos medicamentos é mais complexa que a da alimentação, do vestuário ou do entretenimento, porque envolve fatores que não dependem diretamente de nós, consumidores. 

Em primeiro lugar, há medicamentos que não contêm ingredientes de origem animal, e cujo consumo não implicaria exploração animal em sua produção - a aspirina, por exemplo. O simples fato de tomar medicamentos não significa participar automaticamente na exploração de animais, ainda que sejam de empresas farmacêuticas que façam uso de animais não humanos em certos experimentos. 

Por razões éticas, devemos sempre nos esforçar na busca por opções alternativas aos medicamentos oriundos de empresas que utilizam animais para testes ou para produção, ou que incluam ingredientes de origem animal em sua composição. 

Sabe-se que determinados problemas de saúde podem ser tratados com remédios à base de plantas. Muitos medicamentos produzidos em laboratório contêm substâncias de origem vegetal, que servem como princípios ativos para a cura. As plantas têm sido uma fonte tradicional não só de alimentos, mas também de remédios para várias doenças e transtornos diversos. 

Não vou dizer a ninguém que pare de tomar qualquer medicação, se é necessária para sua saúde. Apenas afirmo que temos a obrigação moral de buscar produtos que não façam uso de outros animais; assim como na alimentação e nos demais âmbitos da vida. 

Não se trata de deixar de utilizar determinados produtos necessários para nossa saúde de um dia para o outro, mas sim de buscar substitutos ou opções similares não provenientes da exploração animal. O importante é que comecemos deixando de participar em tudo o que seja possível. 

É normal que nos preocupemos com esse motivo, e não há nada de mal nisso, pois demonstra que temos empatia e consciência moral. Mas não vale a pena ficar se lamentando por isso se não buscarmos uma solução. 

Sempre haverá alguma exceção, mas cerca de 99% de todos os usos que fazemos dos outros animais já são desnecessários ou substituíveis. Isso se aplica especialmente no caso da alimentação, do vestuário e do entretenimento. 

    13. Não devemos consumir produtos de origem vegetal que contenham traços de origem animal? 

Traços são resíduos mínimos de substâncias que podem ser introduzidas, de forma acidental, na elaboração de um produto, mas que não foram incluídos deliberadamente em sua composição. Não há nenhum problema moral, de acordo com os critérios veganos, em consumir produtos que possam conter traços de origem animal, desde que esse consumo não resulte em uma demanda de exploração de outros animais. 

O consumo de produtos com traços não implica apoiar nem financiar a exploração animal. A advertência sobre os traços nada mais é do que um simples aviso de que existe a possibilidade de que tenham sido introduzidas determinadas substâncias de forma acidental, e é direcionada especificamente para pessoas com certas alergias. 

Ainda que um cozinheiro vegano prepare um prato 100% vegetal, sempre existirá a possibilidade de que caia uma remela ou um fio de cabelo humano dentro de nossa comida. Ao comer esse prato, não estamos praticando o canibalismo só porque existe a possibilidade de ingerir algo de origem humana de forma totalmente involuntária e acidental, certo? Esse caso é exatamente o mesmo que o dos traços. 

Ao consumir produtos que possam conter traços não estamos apoiando a exploração especista, desde que eles não contenham, intencionalmente, substâncias de origem animal. 

    14. Como posso me tornar vegano agora mesmo?

Se compreendemos as razões que fundamentam o veganismo e estamos decididos a respeitar os outros animais, então o primeiro e mais importante passo é informar-se corretamente sobre questões básicas, como nutrição. Isso não nos tomará muito tempo. Na internet é possível encontrar muitos materiais sobre como adotar uma alimentação saudável à base de vegetais.

Esse seria o primeiro passo fundamental, embora o veganismo seja um princípio que se aplica à todas as áreas da vida, e abrange, portanto, vestuário, cuidados pessoais, lazer e qualquer outro propósito. 

Traduzido por Júlia Portela

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